Robert Johnson – O Mestre Sombrio e o Mito do Pacto na Encruzilhada
Robert Johnson é, talvez, o nome mais mítico, misterioso e essencial de toda a história do blues. Sua curta vida, sua morte prematura e seu virtuosismo quase inacreditável deram origem a uma das lendas mais famosas da música americana: a de que ele teria vendido sua alma ao Diabo na encruzilhada para alcançar a maestria na guitarra. Lendas à parte, os poucos registros de Johnson – apenas 29 canções gravadas entre 1936 e 1937 – formam o cânone original do Delta Blues. Sua técnica, que fazia um único violão soar como dois, sua voz lamentosa e suas letras vívidas sobre viagens, pecado e redenção influenciaram diretamente Muddy Waters, Eric Clapton, os Rolling Stones e, em última análise, todo o rock moderno.
Robert Johnson
As Raízes do Mito e a Transformação Rápida:
Nascido no Mississippi no início do século XX, Robert Johnson começou a vida como um músico amador. Diz a lenda que ele era um guitarrista medíocre no início. Ele teria desaparecido por um tempo, e ao retornar, tocava com uma habilidade que beirava o sobrenatural. Seus dedos deslizavam pelo braço do violão com uma velocidade e uma complexidade rítmica que ninguém antes dele havia dominado.
O mito da encruzilhada (Crossroads) serviu como uma metáfora poderosa para a mudança radical em seu estilo. Na realidade, Johnson provavelmente passou seu tempo viajando com o músico Ike Zimmerman, aprimorando sua técnica em isolamento. Ele desenvolveu uma habilidade de tocar linhas de baixo, ritmo e melodia slide simultaneamente, criando a ilusão de uma banda completa.
O Legado em 29 Canções:
As únicas 29 gravações que sobreviveram a Robert Johnson são consideradas o DNA do blues. Suas músicas eram repletas de imagens poderosas do sul rural:
• "Cross Road Blues": O hino do blues que cimentou a lenda da encruzilhada.
• "Sweet Home Chicago": Um clássico regravado inúmeras vezes, que fala sobre migrar para a cidade grande.• "Terraplane Blues": Seu primeiro e único sucesso de vendas, que se tornou um padrão do blues.
Suas composições eram poéticas, com letras que misturavam o folclore do sul com a angústia pessoal, sendo algumas das primeiras a usar o vocabulário do blues para falar de emoções complexas.
O Blues como Religião para o Rock:
O impacto de Robert Johnson se tornou exponencial na década de 1960, quando seus discos foram redescobertos pela geração do rock.
• Eric Clapton se tornou um evangelista de Johnson, regravando canções como "Crossroads" e "Before You Accuse Me", e afirmando que o som de Johnson era a música mais forte que ele já havia ouvido.Para os músicos brancos britânicos, Johnson era a fonte original, o blues puro e intocado que inspirou todo o seu movimento.
Robert Johnson- Crossroad
A Morte Misteriosa e a Imortalidade:
Robert Johnson morreu em 1938, aos 27 anos, sob circunstâncias misteriosas, possivelmente envenenado por um marido ciumento. Ele foi o primeiro a entrar para o infame "Clube dos 27" (que mais tarde incluiria Hendrix, Joplin, Morrison e Cobain).
Com apenas duas fotos comprovadas de sua existência e uma vida envolta em mistério, Robert Johnson permanece uma figura lendária. Ele não precisou de amplificadores, luzes ou um longo catálogo. Suas 29 canções foram suficientes para mudar o curso da música popular para sempre. Ele é a prova de que a alma do blues não reside na tecnologia ou na fama, mas na expressão crua e magistral de um homem e seu violão.